31 julho 2006

Taperoá, Paraíba

Apartamento 209 do Hotel Pedra do Reino, município de Taperoá no interior da Paraíba. Este é o meu novo endereço desde o dia 20 de julho. São quatro horas e meia de estrada que me separam do Recife. Pela frente, previsão de quatro a cinco meses de trabalho. Muita coisa ainda a se definir... mas tudo indica que o semestre vai ser corrido e, provavelmente, com muitas idas à cidade grande.

Por aqui, 14 mil habitantes e ares de uma cidade do interior como tantas outras. Lugar simples, de poucos atrativos turísticos, que é mais conhecida por conta do seu filho mais ilustre: Ariano Suassuna. É por conta dele que estou aqui. A missão é transformar a cidade no cenário de uma de suas obras, O Romance d’A Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta. A adaptação do livro para televisão promete mudar a realidade dos Taperoenses.

O trabalho está só começando. Dez dias se passaram desde a nossa chegada, mas nosso envolvimento com os moradores e com a cidade passa a idéia que estamos por aqui faz uns dois meses. Foi tempo suficiente pra conhecer como funciona a rotina da cidade e quem são seus principais personagens. No mercado, no armazém, na padaria, na feira, no hotel, na prefeitura, nas calçadas, nas casas... em cada lugar uma história pra ouvir. E contar causos é uma coisa que gosto de fazer, o problema é que tem causo de mais e eu nem sei por onde começar. É muito bom conversar e ouvir a histórias do povo. Difícil, às vezes, é entender. O sotaque junta com as expressões da região e a língua vira quase um dialeto. Mas com o passar dos dias percebo que estou pegando o ritmo e a prosa vai ficando mais inteligível.

A receptividade é maravilhosa. Prefeito, comerciantes e moradores nos tratam com muita hospitalidade. Visitar uma casa e não comer um doce, tomar um café ou almoçar é uma ofensa. Dia desses, andando pela cidade, fui abordado por Bete Diniz, que trabalha na biblioteca municipal. Ela falou da expectativa pelo início das filmagens, convidou a retirar um livro na biblioteca e me logo me presenteou com seu livro de poesias. Faço questão de apresentar um trecho de uma delas:

(...)
“Para me possuíres indefesa
Precisarias construir castelo de rainha
Num piscar de olhos tipo surpresa
E ainda assim até à tardinha,
Porque a noite é sempre minha
E eu escolho com quem vou dormir...”
(...)

A cada dia uma nova experiência. Um dos nossos trabalhos é fazer um cadastro da mão-de-obra local. Entrevistamos cerca de cinqüenta pessoas por dia, aqui e ali sempre surge uma história que impressiona. São mulheres que querem uma oportunidade como faxineiras, babás e cozinheiras. Homens atrás de uma vaga como pedreiro, pintor e motorista. Tem de tudo, dava pra encher esse blog de história. Tem muita gente que já trabalhou e morou no Rio ou em São Paulo e voltou porque a situação por lá não tava fácil. Tem gente que chora quando conta o que já viveu. Tem gente que estudou e tem muita gente que não. E tem gente de mais que nunca fez nada ou simplesmente faz de tudo, ou qualquer coisa, pra viver.

Bom, o trabalho por aqui vai ser puxado mas, com certeza, vai render muitos textos. Aos poucos, sempre que tiver tempo, conto alguns causos. E estamos conversados.

4 comentários:

betita disse...

queria passar um final de semana ai. Histórias são ótimas. Adorei o poema.
saudade

Ivana de Souza disse...

Eita, ralação que vai valer a pena, Marcinho. :)

Anônimo disse...

Oi Márcio!
A experiência desses meses ai, sem dúvida, será maravilhosa e rica em novas e interessantes histórias.
E eu, já estou acompanhando!!!
Bj

Anônimo disse...

pois é... vou aproveitar bastante.
experiências novas pela frente...
bjos