30 julho 2007

Negro Amor

Vá, se mande, junte tudo que você puder levar
Ande, tudo que parece seu é bom que agarre já
Seu filho feio e louco ficou só
Chorando feito fogo à luz do sol
Os alquimistas já estão no corredor
E não tem mais nada negro amor
A estrada é pra você e o jogo é a indecência
Junte tudo que você conseguiu por coincidência
E o pintor de rua que anda só
Desenha maluquice em seu lençol
Sob seus pés o céu também rachou
E não tem mais nada negro amor
Seus marinheiros mareados abandonam o mar
Seus guerreiros desarmados não vão mais lutar
Seu namorado já vai dando o fora
Levando os cobertores, e agora?
Até o tapete sem você voou
E não tem mais nada negro amor
E não tem mais nada...
As pedras do caminho deixe para trás
Esqueça os mortos que não levantam mais
O vagabundo esmola pela rua
Vestindo a mesma roupa que foi sua
Risque outro fósforo, outra vida, outra luz, outra cor
E não tem mais nada negro amor

Por Bob Dylan na versão Péricles Cavalcante e Caetano Veloso

18 julho 2007

Congênito

...
"Mas o tudo que se tem
Não representa nada
Tá na cara que o jovem
Tem seu automóvel
O tudo que se tem
Não representa tudo
O puro conteúdo é consideração"
...

por Luiz Melodia

06 julho 2007

Todos Precisam

O Tema é fértil e a sensação compartilhada gera outros pensamentos e reflexões.

Quando a espera cansa e as lembranças perduram
Crônica por Roberta Valentim.

"Não há nada mais melancólico do que lembranças de amores passados enquanto os futuros não vêm. Lembrar das primeiras falas ao telefone. Daqueles deliciosos joguetes de quem desliga primeiro, de quem ama mais. Da espera da ligação esperada. Da surpresa da inesperada. Das mensagens que tiram sorrisos. Dos sorrisos que exalam verdade. Lembranças da saudade por causa de um mísero dia distante. Da angustia da incerteza do amor. Ah, essa incerteza! Como ela é bem-vinda quando se tem certeza por não existir amor. Lembrança do anoitecer e amanhecer juntos. Do café na cama. Do cheiro na roupa. Das brigas dolorosas. Das pazes saborosas. Lembrança do constrangimento ao conhecer a família do rapaz ou da mocinha. Lembrança do cuidado das enfermidades. Das horas ao lado perguntando se está doendo. Lembrança das saídas com os amigos. Das ligações na madrugada mascaradas de saudade. Lembranças das horas perdidas no espelho para escutar elogios. Das horas preparando um jantar. Com ou sem velas. Com ou sem vinhos. Lembrança dos jantares e das sobremesas. Da pressa por chegar, por vezes vencida nas escadas, carros e salas. Lembranças das lágrimas engendradas. Do fim. Lembrança do passado. Do quanto é bom ter passado. Se amores fossem como filhos, faríamos como Vinícius: “Filhos... Filhos? Melhor não tê-los! Mas se não os temos. Como sabê-lo?...Que coisa louca. Que coisa linda. Que os filhos são!”"

05 julho 2007

Precisa-se

Nada de aventuras, paquera, sexo sem compromisso, beijo na boca sem perguntar em quem. Precisa-se apenas de uma paixão, que vire amor. Algo que seja careta mesmo, com jantar a luz de velas, escurinho do cinema, conversa com cerveja, cafuné, mão dada, dormir junto, fazer amor. Alguém pra compartilhar, assistir televisão, tomar sorvete e até brigar, mas depois ficar bem. Programar uma viagem, praia deserta, noite de lua. Precisa-se de boas lembranças que, de preferência, sejam de uma pessoa que ainda exista e não daquela que um dia foi. Recordações felizes como uma música, cheiro no lençol, quadro na parede, fotos no computador. Não precisa ser nada muito perfeito, até porque perfeito não há de existir, mas que seja de verdade e que também precise de coisas simples assim.
por Márcio Guerra