29 agosto 2006

Monóico

Aparte aquilo que a gente quer
Eu sou um homem, você é uma mulher
Se estou com fome você me traz uma colher
E eu me alimento

Mas na verdade isso tanto faz
Sou só metade se você é meu par
Eu só queria com você me casar
E você me completa

Eu sou um antúrio, você é um ibísco
Eu quero tudo e sempre tudo coloco em risco
E num mergulho eu acho que sou seu marido
E eu me afogo

Sinto seu dedo mas não vejo a sua mão
Não sinto medo quando estou deitado olhando pro chão
E o meu relevo ofereço pra sua visão
E você me afaga

Quero que sua lingua lamba o meu corpo nú
E que o meu sexo te dê todo o céu azul
Nas suas pernas se encrava o tesouro do meu baú
E eu te abuso

Me dê seu leite como meu licor
Me dê seus peitos cheios de amor
Me dê um beijo sem nenhum pudor
E você me penetra

Raspe meu sal como um animal
Use sua boca me faça seu fio dental
Solte meu cinto, dou seu guia e farol
E eu te ilumino

Diga seu nome que eu revelo minha identidade
Mate minha fome que eu farei tuas vontades
Uma esfinge cercada por três piramides
E Você me enterra

Sou sua sombra, seu espelho, sua ilusão
Você é meu leito, minha onda, minha missão
Não temos tempo precisamos de solução
E quem é que espera?

Temos dois lados, pois temos frente e verso
Me queira inteiro assim te imploro e peço
Sou mais que o avesso sou seu fogo seu forro seu ferro
E eu te engulo

Eu sou um homem você é uma mulher
Você me come porque eu quero ser sua mulher
E eu quero o homem que come essa mulher
Será que você me entende?

E finalmente restaremos só osso e pó
Sejamos homens, mulheres, qualquer um de nós
E Fatalmente terminaremos sós
Mas você: a quem pertence?

Você pertence à você



Nando Reis fez a letra e, diante às críticas, explicou: “A música descreve uma relação sexual entre homem e mulher. Pode ser lida metaforicamente, não só fisicamente. É controversa mesmo. Muita gente acha que é uma música bissexual ou gay. Se os homens não cantarem, é porque são muito inseguros de sua sexualidade”.

18 agosto 2006

O Bonde Do Dom

Novo dia
Sigo pensando em você
Fico tão leve que não levo padecer
Trabalho em samba e não posso reclamar
Vivo cantando só para te tocar
Todo dia
Vivo pensando em casar
Juntar as rimas como um pobre popular
Subir na vida com você em meu altar
Sigo tocando só para te cantar
É o bonde do dom que me leva
Os anjos que me carregam
Os automóveis que me cercam
Os santos que me projetam
Nas asas do bem desse mundo
Carregam um quintal lá no fundo
A água do mar me bebe
A sede de ti prossegue
A sede de ti...

por Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte

08 agosto 2006

Por Fim

O encanto acabou...
Tão rápido quanto surgiu
O desejo se foi...
Transformou-se em decepção
O carinho das palavras...
Desfez-se em atitudes ásperas
O respeito não mais existe...
Restou apenas uma improvável amizade

07 agosto 2006

Logo Ali

Em Taperoá, entrevistando uma senhora de 50 anos:
(..)
Eu: O que a senhora sabe fazer?
Ela: Qualquer coisa
Eu: Mas a senhora tem experiência em algum trabalho?
Ela: Não. Só trabalhei em casa mesmo
Eu: E onde a senhora mora?
Ela: No Sítio Marcação
Eu: Fica perto daqui?
Ela: Fica sim, 12 quilômetros.
Eu: Como a senhora veio?
Ela: Andando. Saí de casa quatro da manhã.
Eu: Mas vai voltar andando também?
Ela: Não sei, vou tentar pegar uma carroça aqui na feira
Eu: Mas como a senhora vai fazer pra vir trabalhar todo dia?
Ela: Caminhando mesmo
(...)

Fiquei com cara de assustado e sem saber o que dizer... claro!

...Deve Ter Algum Que Sirva

Socorro, não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo,
Não vai dar mais pra chorar, nem pra rir
Socorro, alguma alma, mesmo que penada
Me empreste suas penas
Ja não sinto amor, nem dor
Ja não sinto nada
Socorro, alguem me dê um coração,
Que esse ja não bate, nem apanha
Por favor, uma emocão pequena, qualquer coisa
Qualquer coisa que se sinta,
Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva
(...)

Por Arnaldo Antunes