25 setembro 2006

O Tempo Da Delicadeza

A distância mais uma vez alimenta a saudade. Dias longe de casa e de pessoas importantes e necessárias na minha vida. Por aqui, palavras sábias da diva Fernanda Montenegro, que durante uma palestra citou uma poesia de Chico Buarque que só fez aguçar os sentimentos.

“Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar e urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu”.

Dona Fernanda, no alto de sua experiência, deu-se ao luxo de questionar o poeta e decretou: “podemos viver o tempo da delicadeza agora”, e com ajuda do dicionário utilizando sinônimos completou: “que seja um tempo de ternura, sensibilidade, leveza, perfeição(...)”

É isso. Fico por aqui em companhia da saudade e buscando um tempo de delicadeza.

11 setembro 2006

Maria Flor

Que a comunhão de sentimentos
Um dia se transforme em Flor

E que esta Flor, de tão amada
Seja chamada de Maria

E que Maria, de tão bela
Tenha em seu nome Flor

Amada por ser Maria
Bela por ser Flor

Que seja batizada então
Mas não apenas como Maria

Que seja Maria Flor

01 setembro 2006

Quando o Amor Vacila

Eu sei que por trás desse universo de aparências, das diferenças todas, a esperança é preservada. Nas xícaras sujas de ontem, o café de cada manhã é servido. Mas existe uma palavra que eu não suporto ouvir e dela não me conformo. Eu acredito em tudo, mas eu quero você agora. Eu te amo pelas tuas faltas e pelo teu corpo marcado, pelas tuas cicatrizes, pelas tuas loucuras todas, minha vida. Eu amo as tuas mãos, mesmo que por causa delas eu não saiba o que fazer das minhas. Amo o teu jogo triste, as tuas roupas sujas é aqui em casa que eu lavo. Eu amo a tua alegria. Mesmo fora de si, eu te amo pela tua essência, até pelo que você poderia ter sido, se a maré das circunstâncias não tivesse te banhado nas águas do equívoco. Eu te amo nas horas infernais e na vida sem tempo, quando sozinha bordo mais uma toalha de fim de semana. Eu te amo pelas crianças e pelas futuras rugas. Te amo pelas tuas ilusões perdidas e pelos teus sonhos inúteis. Amo o teu sistema de vida e morte. Eu te amo pelo que se repete e que nunca é igual. Eu te amo pelas tuas entradas, saídas e bandeiras. Te amo desde os teus pés até o que te escapa. Eu te amo de alma pra alma e mais que as palavras, ainda que seja através delas que eu me defenda, quando digo que te amo mais que o silêncio dos momentos difíceis quando o próprio amor vacila.

texto recitado por Maria Bethânia no show "Maricotinha". O autor não foi creditado.