31 maio 2006

Fausto você tem talento

Trabalho bom peguei essa semana. Registrar uma aula espetáculo de Ariano Suassuna no auditório da Faculdade de Administração da Universidade de Pernambuco. Muito assediado, como sempre, o escritor sentou na primeira fila do auditório para dar autógrafos, tirar fotos e também conversar com a imprensa. Entre uma foto e outra, Ariano se esquivava da jornalista que queria saber sobre sua candidatura ao senado federal: “Minha filha, faça o seguinte me pergunte sobre literatura”. Foi nesse momento que um homem com seus quarenta e poucos anos se agachou e esticou o braço em direção ao mestre. Na mão ele segurava um papel amarelado pelo tempo que tinha uma foto de um jovem Ariano e o seguinte texto: Letras UFPE 1981. Assim que bateu os olhos no papel, Ariano parou a entrevista, cumprimentou o tal homem e foi logo dizendo: “Que bom lhe encontrar. Você vai ser personagem do livro que estou escrevendo. Estou autorizado?” Diante do silêncio do homem ele reforçou o que tinha dito: “Vou logo dizendo. E vai ser com seu nome mesmo. Fausto. Posso? Estou autorizado?” A única resposta que teve do seu personagem foi um beijo na mão e pedido de benção. “Deus te abençoe”, respondeu Ariano que em seguida voltou-se para os jornalistas que deram pouca atenção ao que havia ocorrido.

Dez minutos depois fui atrás do senhor Fausto Martins, artista plástico nas horas vagas que em 1981 formou-se em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco com a honra de ter Ariano Suassuna como professor de literatura e história da arte. Agora sentado na última fila do auditório, observando de longe seu professor que ainda conversava com jornalistas e estudantes, Fausto me explicou que Ariano foi homenageado por sua turma e que ao longo dos anos cultivou um carinho por essa pessoa que várias vezes o recebeu em sua casa: “A primeira vez foi quando me aconselharam a mostrar minhas obras para ele, eu estava desacreditado porque um artista tinha dito que eu não dava pro negócio”. Mas não foi assim que avaliou Ariano que logo sentenciou: “Fausto você tem talento”.

Bom, alguma coisa de especial ele deve ter mesmo. Afinal de contas Fausto Martins agora era personagem de um livro do seu eterno mestre. Perguntei como ele se sentia com tamanha homenagem: “Pra falar a verdade a ficha ainda não caiu. Está tudo aqui na minha cabeça mas ainda não chegou no coração”. Mas nesse momento, agora com os olhos cheios de lágrimas, Fausto finalmente parecia ter entendido o que lhe havia acontecido.

30 maio 2006

Quando os amantes dormem

Quando as pessoas se amam e querem se amar, selam um pacto: dormir juntas. E quando se fala "dormir juntos" o sentido é duplo: significa primeiro amar acordado em plena vigília da carne, mas, depois, na lansidão do pós-gozo, deixar os corpos lado a lado, à deriva, dormindo, talvez. Na verdade, os amantes, quando são amantes mesmo, mesmo enquanto dormem se amam.
(...)
Amar é ser cúmplice do sonho alheio.
(...)
À noite os sonhos dos amantes se cristalizam. E de dia se liqüefazem em beijos e lágrimas. Quem ama diz boa-noite como quem abre/fecha a porta de um jardim. Não apenas como quem viaja, mas como quem vai para a colheita. Quando se ama, acontece de um habitar o sonho do outro, e fecundá-lo.

Fragmento de texto por Affonso Romano de Sant'Anna

29 maio 2006

Não Mais

Vou parar ficar aqui
Não olhar ver você assim
Não vou morrer
Não vou matar
Nem sorrir muito menos vou chorar
Por você, por ninguém
Por você, por ninguém, nem por mim
Deixa estar que tal mentir
E guardar o melhor pra mim
Não vou morrer nem sequer me abalar
Nem sorrir nem ao menos vou chorar
Quando você não mais, não mais...
Não vou morrer, nem sequer me abalar
Nem sorrir, nem ao menos vou chorar
Mas acredite, meu coração ainda sabe fingir
Por alguém que é ninguém, que é ninguém
Por alguém que é ninguém prá mim

por John

25 maio 2006

Simplesmente, quase

Quase não espero.
Quase não penso.
Quase não te quero.
Quiçá não te deseje.
Quem dera, quase.
Quase não sinto.
Quase que insisto.
Mas ainda persisto,
Na busca insensata
Nas noites desvairadas
Nos “quases”
Nos por quês.
No querer.
Para quer?
Para saber que o quase
Muitas vezes não tem
Valer.

por Betita

Quase, sempre

Um dia pensei que seríamos felizes, fomos quase...
Mas por pouco nossa história não deu certo, foi quase...
Hoje percebo que esquecer foi melhor, tô quase...
Pois não tinha certeza se existia amor, houve quase...
Bons momentos nós passamos juntos, foram quase...
Boas recordações guardamos um do outro, temos quase...
Procuro agora evitar tais lembranças, consigo quase...
Mas confesso que continuo pensando nela... quase, sempre.

Quase 2

E as reflexões de mesa de bar continuam...
Agora com a colaboração de Lorena...
"O quase existe. E o quase muitas vezes é um inteiro".

24 maio 2006

Um texto alegre

Palavras para falar de coisas boas
Boas e que nos deixem feliz
Feliz com as pessoas que amamos
Amamos por nos desejar o bem
Bem por está sempre por perto
Perto pra colocar a conversa em dia
Dia pra começar cantando
Cantando para demonstrar alegria
Alegria pra quem quiser ouvir
Ouvir o que o outro tem a dizer
Dizer e colocar tudo pra fora
Fora o que não está fazendo bem
Bem para escrever esse texto
Texto com frases que falem de coisas boas
Boas como as palavras que agora escrevo
Escrevo para que a gente fique feliz

dedico a Betita pela inspiração e carinho.

Ode aos Ratos

Rato
Rato que rói a roupa
Que rói a rapa do rei do morro
Que rói a roda do carro
Que rói o carro, que rói o ferro
Que rói o barro, rói o morro
Rato que rói o rato
Ra-rato, ra-rato
Roto que ri do roto
Que rói o farrapo
Do esfarra-rapado
Que mete a ripa, arranca rabo
Rato ruim
Rato que rói a rosa
Rói o riso da moça
E ruma rua arriba
Em sua rota de rato

Trecho da música Ode aos Ratos de Chico Buarque, originalmente composta em parceria com Edu Lobo para o musical Cambaio de Adriana e João Falcão. Para o disco Carioca, Chico acrescentou à letra essa embolada que o arranjador Luis Cláudio Ramos classificou com um rap-baião.

22 maio 2006

Danada

Se teu beijo tem sabor, que delícia
Teu abraço, teu calor
Vai me incendiar
Eu só quero teu amor, menina
Esse sorriso encantador
Me fascina

Quem sabe eu encontre
O luar perfeito
Pra te amar
Na beira do mar

Por Erastos Vasconcelos.

19 maio 2006

Quase

...
"o quase não existe"
...
reflexões de mesa de bar.
Com a colaboração de MM's.

18 maio 2006

Cidade Baixa

Programa de quarta à noite: filminho e pizza com Betita. Na locadora escolhemos Cidade Baixa, de Sérgio Machado. Palmas para a excepcional atuação Wagner Moura (Naldinho) e Lázaro Ramos (Deco) que formam com Alice Braga (Karinna) um conturbado triângulo amoroso. Como Betita definiu: “visceral, intenso, forte”. Pois é, o filme é forte mesmo... ficamos de cara!! É de um realismo que chega a chocar. Real nas cenas e na linguagem dos atores. A dica é depois do filme ver o making of com os detalhes da preparação dos atores, fotografia, locações... Outra dica é não comer pizza durante a sessão. Não combina mesmo.

Um Morto Pula A Janela

“Bem, o sofá passara no teste, e eu adorava que me acariciasse o peito, que se enlaçasse no meu pescoço, que me fizesse cafunés na nuca enquanto nos encharcávamos com um beijo escandaloso, volúpia amanhecida, que só poderia terminar na cama e em mais além do que se pudesse esperar de um sonho interminável e um reconhecimento do céu palmo a palmo, pedra sobre pedra em um castelo de prazer que pouco importava
se desmoronasse porque para isto fora feito e bastaria um dedo correndo sobre a pele para que se erguesse em forma de nuvem e chovessem flocos por todo o tempo do mundo e mais duas ou três eternidades de todos os santos, amém.”

Trecho do romance Um Morto Pula a Janela (1991) de Nei Lisboa.

15 maio 2006

Carioca

Acabou o jejum. Já está nas lojas o novo CD de Chico Buarque, Carioca. Desde 98 ele não lançava um disco com música inéditas. São 12 canções no CD e um making of em DVD que mostra o processo de composição e gravação do disco. Destaco a poesia da música Sempre composta por Chico para o filme O Maior Amor do Mundo, de Cacá Diegues.

Sempre
Eu te contemplava sempre
Te mirei de mil mirantes
Mesmo em sonho estive atento
Para poder lembrar-te sempre
Como olhando o firmamento
E as estrelas cintilantes
Que se foram para sempre
No teu corpo em movimento
Os teus lábios em flagrante
O teu riso, o teu silêncio
Serão meus ainda e sempre
Dura a vida alguns instantes
Porém mais do que o bastante
Quando em cada instante é
sempre"

por Chico Buarque

12 maio 2006

Pra Te Lembrar

"Que é que eu vou fazer pra te esquecer?
Sempre que já nem me lembro, lembras pra mim
Cada sonho teu me abraça ao acordar
Como um anjo lindo
Mais leve que o ar
Tão doce de olhar
Que nenhum adeus pode apagar...

Que é que eu vou fazer pra te deixar?
Sempre que eu apresso o passo, passas por mim
E um silêncio teu me pede pra voltar
Ao te ver seguindo
Mais leve que o ar
Tão doce de olhar
Que nenhum adeus pode apagar

Que é que eu vou fazer pra te lembrar?
Como tantos que eu conheço e esqueço de amar
Em que espelho teu, sou eu que vou estar?
A te ver sorrindo
Mais leve que o ar
Tão doce de olhar
Que nenhum adeus vai apagar..."


Essa letra foi composta por Nei Lisboa. Você conhece o cara? Bom, desculpa a ignorância mas eu não conhecia! Por isso fui pesquisar... Descobri que é um gaúcho de Caxias de Sul... Já gravou oito discos e publicou um romance.

Essa música está no CD “Relógios do Sol” de 2003, mas eu só conhecia pela interpretação que Caetano Veloso fez para a trilha sonora do filme “Meu Tio Matou Um Cara”, lançado em 2004.

Gosto da letra e da interpretação de Caetano. Ainda não conheço a versão original feita por Nei... mas vou procurar!!

09 maio 2006

Avassaladora

Avassaladora
senta no seu colo
lambe o pescoço
morde a orelha
enfia a língüa
por entre seus dentes
tomando toda a sua boca
ela é louca
muito louca e,
ele adora sua mão
apertando o que deseja
com calor e com carinho
ensinando o caminho
da loucura
e acabando com
seu medo de não poder
e o macho se solta
se larga, se acaba na
mão da rainha
com todo prazer.
e o macho desmonta
no grito de gozo
na mão da rainha
e desmaia
de tanto prazer.

por Gonzaguinha

06 maio 2006

Manhã Deprimente

Dia desses dei plantão na entrada do hospital da Restauração. Na pauta algumas imagens e, se possível, depoimentos de algumas pessoas sobre o atendimento que estavam recebendo na maior emergência do estado.

Não demorou muito para percebermos que a situação é realmente crítica. Do lado de fora vemos o corredor da emergência lotado de pacientes, alguns privilegiados deitados em macas e o restante recebendo atendimento sentados mesmo.

Da porta da emergência, uma mulher percebe se tratar de uma equipe de reportagem e logo me faz sinal. Queria que eu entrasse para mostrar um senhor nu deitado numa maca esperando atendimento. Expliquei pra ela que não tinha autorização para entrar e chamei-a pra conversar. Ela confirmou e deu detalhes do caos que ta na cara de todo mundo. O hospital não suporta o grande número de pacientes que recebe todos dos dias. São ambulâncias que chegam a todo momento de várias cidades do interior e de outros hospitais da capital, além das muitas pessoas que procuram nessa emergência o atendimento que poderia ser oferecido em policlínicas e hospitais públicos menores.

Enquanto o cinegrafista faz algumas imagens fico conversando com algumas pessoas que esperam na recepção notícias de seus familiares. Duas mulheres me contam seus dramas. Uma com a mãe internada há vários dias e a outra com o marido que havia sofrido acidente de moto no dia anterior. Elas esperam que as assistentes sociais distribuam as fichas para a visita. Enquanto isso, relatam o descaso dos funcionários e até situações de suborno para conseguir entrar na emergência fora do horário de visita. Mas elas se negam a gravar entrevista temendo represália por parte dos funcionários do hospital.

O fato é que nossa presença mudou um pouco a rotina no local. Os maqueiros e assistentes sociais pareciam trabalhar com mais empenho que o de costume. Até o diretor aparecia de vez em quando na recepção para tomar pé da situação. Bom, não podemos provar isso mas uma das pessoas que conversei disse que os funcionários estavam incomodados com a nossa câmera.

Mesmo não sendo bem recebidos, continuamos de plantão flagrando tudo. Teve um momento que não tinha mais macas para receber os pacientes e os maqueiros, prontamente, resolveram carregar alguns pacientes nos braços. Também apareceu um homem que me procurou para denunciar o que ele chamou de “a máfia das funerárias”. Queria me levar até o necrotério mas confesso que não levei o cara muito a sério.

Algumas horas depois encontro uma das mulheres que agora saia da visita. Ela me contou que sua mãe havia sido transferida para outro setor. Estava agora com a companhia dos filhos e, como era de se esperar, bem preocupada com a situação da mãe. Tanto que nem conversou muito. Logo depois encontro a segunda mulher descendo a rampa que dá acesso a emergência. Perguntei como estava seu marido e ela respondeu: Paraplégico. Depois disso ela começou a chorar e me perguntou: E a agora? Claro que não soube o que falar e ela continuou: Não sei o que fazer. Ele tem 27 anos. Como vou fazer pra sustentar a nossa filha? Não tenho dinheiro nem pra pagar a passagem de ônibus. O que eu poderia ter dito? Deu logo um nó na garganta. Ela ainda me contou que ele precisava de uma cirurgia e as pessoas do hospital tinham dito pra ela dar entrada na aposentadoria dele. Fiquei novamente sem saber o que dizer. Na verdade nem lembro o que falei pra ela. Lembro agora que ela seguiu descendo a rampa indo não sei pra onde.

Depois disso fizemos mais algumas imagens e seguimos para a próxima pauta. Pense numa manhã deprimente.

05 maio 2006

Eu te amo

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir

Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir

Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir.

por Chico Buarque e Tom Jobim

04 maio 2006

O soldado me deu uma chance!!

Feriadão de 1º de maio. Resolvi ir a praia de Tamandaré para descansar um pouco e pegar um solzinho pra tirar o mofo da pele. Era domingo final da tarde quando peguei a estrada. Seguia dirigindo e cantando quando fui obrigado a parar no posto da polícia rodoviária estadual.

Policial: Os documentos por favor.
Eu: Carteira de motorista, documento do carro e IPVA pago.
Policial: Certo. O senhor pode mostrar o extintor?
Eu: Pois não.
Policial: Bom, seu extintor está vencido. Isso dá multa e apreensão do veículo.
Eu: É!?!?
Policial: Vou fazer o seguinte: vamos apenas aplicar a multa. Mas o senhor vai ter que providenciar um novo extintor
Eu: Claro.
Policial: O senhor pode me acompanhar até lá dentro do posto para preenchermos a autuação?
Eu: Ok.

Dentro do posto

Policial: Você mora no Cordeiro?
Eu: Meus pais é que moram nesse endereço.
Policial: Pra onde você ta indo agora?
Eu: Tamandaré. Meu Pai tem casa lá.
Policial: Vou pegar um bloco novo pra preencher a multa.
...
Policial: Veja só, vou lhe dar um presente. Não vou aplicar a multa.
Eu: Poxa. Obrigado!
Policial: Agora é bom você providenciar um novo extintor. Daqui até Tamandaré você vai passar por outras blitz.
Eu: Claro. Posso comprar aqui no posto de gasolina em Gaibu e voltar aqui para lhe mostrar.
Policial: Não precisa. Já estou largando.

De volta ao carro

Policial: Faça assim: o senhor pode seguir viagem. Se alguma blitz lhe parar diga que o Soldado Francisco do posto de Gaibu lhe deu uma chance.
Eu: sério?
Policial: Fique tranqüilo. Diga que falou comigo.
Eu: Muito obrigado Francisco.
Policial: Meu amigo vou dizer uma coisa: eu costumo tratar bem as pessoas que me tratam bem.
...
Até agora não sei o que eu fiz ou falei pra ele não ter me multado. O fato é que foi realmente um presente. Por via das dúvidas, comprei o extintor num posto próximo. Mas a partir de agora quando me pararem numa blitz eu digo logo: o soldado Francisco me deu uma chance! E estamos conversados!!


Obs. Francisco é um nome fictício. O nome verdadeiro eu vou manter em segredo por questões de segurança. Se não todo mundo vai querer usar o nome do meu “peixe” quando for parado numa blitz.

03 maio 2006

Cadeia Alimentar

Esse assunto já foi tema no blog de minha amiga Betita. Ela relatou uma experiência que tive numa viagem que fiz pelo interior recentemente. O causo aconteceu na comunidade de Xéu, no município de Surubim, bem próximo da barragem de Jucazinho onde fomos fazer algumas imagens. Ao passar por uma rua a beira do rio Capibaribe, nos deparamos com uma nuvem de formigas tanajuras... era formiga que só a gota. Bom, eu nunca experimentei, mas tem gente que já provou e disse que bunda de tanajura assada é uma delícia, e Betita jura que é mesmo. Sendo assim, tava todo mundo atrás das danadas. Tinha homem, mulher, menino, menina e também todas as galinhas da comunidade e centenas de sapos cururus querendo fazer uma boquinha. Enquanto as pessoas guardavam as tanajuras capturadas em garrafas de refrigerante, as galinhas e os sapos faziam a refeição ali na hora mesmo, isso quando não levavam um chega pra lá do homem, da mulher, do menino e da menina. Valia a lei do mais forte, e poucas vezes a do mais esperto. Tinha formiga pra todo mundo, mas a disputa era acirrada. Fiquei com pena dos cururus.... quando não eram chutados, acabavam atropelados por nosso carro. Era triste, mas não tinha como evitar. É a cadeia alimentar: homem que tira o alimento da galinha, que tira o alimento do sapo cururu que é atropelado pelo carro de reportagem. E estamos conversados.

...e estamos conversados

Bom... sentia falta de um lugar pra escrever, de vez em quando, alguns pensamentos e outras coisas que passam por essa mente, as vezes, desocupada. Então... depois dos conselhos de minha amiga Betita, resolvi fundar esse blog.
Escolher o nome não foi fácil... eis que de repente lembrei de uma letra de Arnaldo Antunes e Paulo Tatit, que termina com uma frase simples e ate um pouco grosseira. Resolvi usar essa tal frase... talvez por falta de criatividade ou paciência. Bom... o fato é que o nome vai ser esse mesmo... e estamos conversados.

Por aqui vou escrever alguns situações do dia-a-dia e algumas letras e versos que acho que merecem uma maior reflexão.
Vou começar com a letra que deu nome ao blog.
E estamos conversados.


" Eu não acho mais graça nenhuma nesse ruído constante
que fazem as falas das pessoas falando, cochichando e reclamando,
que eles querem mesmo é reclamar,
como uma risada na minha orelha, ou como uma abelha, ou qualquer outra coisa pentelha,
sobre as vidas alheias, ou como elas são feias,
ou como estão cheias de tanto esconderem segredos
que todo mundo já sabe, ou se não sabe desconfia.
Eu não vou mais ficar ouvindo distraido eles falarem deles e do que eles fariam se fosse com eles
e o que eles não fazem de jeito nenhum, como se interessasse a qualquer um.
Eles são: As pessoas. As pessoas todas, fora os mudos.
Se eles querem falar de mim, de nós, de nós dois,
falem longe da minha janela, por favor, se for para falar do meu amor.
Eu agora só escuto rádio, vitrola, gravador.
Campainha, telefone, secretária eletrônica eu não ouço nunca mais, pelo menos por enquanto.
Quem quiser papo comigo tem que calar a boca enquanto eu fecho o bico.
E estamos conversados"